Choque na relação: 5 características críticas na construção de um casamento saudável

Tratar de relacionamentos amorosos é sempre um desafio para quem se propõem a lidar com o tema, a exemplo deste psicólogo que vos escreve. Mas, isso não é por acaso, visto que os motivos são vários, começando pela artificialidade das relações atuais, onde o conceito de amor, dedicação e fidelidade para um casamento saudável se tornaram descartáveis e distorcidos.

Pensando nisso, resolvi listar 5 características fundamentais para quem deseja construir um casamento saudável, muito embora cada experiência seja única e, por isso, deva ser contextualizada à realidade de cada situação. Vamos à lista?

01 – Definição pessoal de valores

Não existe relacionamento saudável sem a definição pessoal de valores, e este é o ponto de partida para a construção de todo relacionamento saudável. Mas, o que seria isso? Resposta: é tudo o que você entende acerca de si mesmo(a), cujos princípios e conceitos são inegociáveis. Por exemplo:

a) Você aceitaria conviver com alguém que não abre mão de sair com os amigos no final de semana?

b) Você aceitaria conviver com alguém que é fanático por jogos, esportes e etc.?

c) Aceitaria conviver com alguém que não possui e não respeita princípios religiosos, como a fé em Deus?

d) Aceitaria conviver com alguém que não se importa com fidelidade sexual, amorosa e familiar?

e) Aceitaria conviver com alguém que não dedica tempo, cuidado, sacrifício e atenção aos filhos?

f) Aceitaria conviver com alguém que enfrenta dependência química?

g) Aceitaria conviver com alguém que sua família não enxerga com bons olhos?

h) Aceitaria conviver com alguém sem estudos?

I) Aceitaria conviver com alguém que não tivesse condições de lhe bancar financeiramente luxos, vaidades e aparências de riqueza?

J) Aceitaria conviver com alguém aparentemente frágil, humilde, mas de bom caráter e honesto?

k) Aceitaria conviver com alguém que, embora aparentemente forte e rico, fosse mau-caráter e desonesto?

L) Aceitaria conviver com alguém que te humilhasse psicologicamente, além de te agredir emocional e fisicamente?

Esses são alguns exemplos das definições de valores que toda pessoa, homem ou mulher, precisa ter para iniciar um bom relacionamento.

02 – Transparência desde o início

Não adianta mover montanhas e mundos em prol de algo onde os indivíduos envolvidos não são capazes de ser transparentes uns com os outros. Esse é um requisito fundamental, pois ele é o que podemos classificar como uma das colunas de sustentação do relacionamento por toda a vida, desde que isso seja uma prática comum desde o início.

E por quê? Ora, a transparência é o que nos permite não criarmos o que chamo de “minas” para o futuro da relação. E o que seria isso? São como explosivos, bombas que o cônjuge vai ter que lidar apenas quando “pisar” nelas no decorrer da caminhada do relacionamento. Ou seja, quando descobrir coisas que poderiam ter sido tratadas desde o início, mas o outro resolveu tentar esconder.

Se você não quer ter que seu cônjuge seja surpreendido com explosões das minas escondidas acerca de si próprio, trate sua vida com transparência desde o início, pois isso evitará traumas que no futuro serão extremamente prejudiciais e poderão acarretar em muito mais dor e sofrimento.

Mas, agora você pode se perguntar, no quê devo ser transparente? A resposta é simples: em tudo o que for relevante para a confiança na relação e no estabelecimento de metas futuras. Exemplos:

Se for sua condição financeira, seja transparente; Se for parentes (familiares problemáticos, por exemplo), seja transparente; Se for sexualidade, seja transparente; Se for fidelidade, seja transparente; Se for traumas passados que ainda lhe afetam, seja transparente; Se for comportamentos notadamente prejudiciais, seja transparente.

Ou seja, tudo o que pode acarretar, no futuro, traumas para a relação, precisa ser tratado com transparência desde o início, pois isso é o que dará ao seu cônjuge em potencial as condições de poder decidir se confia ou não em você, e tudo com base não apenas nas suas experiências, mas principalmente em sua capacidade de compartilhá-las com transparência.

03 – Esforço e dedicação

Uma vez em que você estabelece metas de valores (tópico 01) e trata sua relação com transparência acerca de si, o próximo requisito fundamental para o relacionamento de sucesso é esforço e dedicação. Ambos podem parecer iguais, mas não são.

Esforço é algo que remete à ação. Ou seja, você precisa ser proativo(a), tornando suas metas em coisas práticas a partir do dia a dia. A dedicação, por outro lado, envolve mais o lado emocional, onde a constância em termos afetivos precisa estar presente. Em outras palavras, esforço é como se fosse a execução prática da dedicação afetiva.

Quem deseja um relacionamento saudável precisa entender que deve investir esforço e dedicação, desde que os tópicos anteriores tenham sido respeitados. Entende, agora, o motivo pelo qual é crucial estabelecer metas pessoais de valores e transparência? Isso, porque, quando seguimos essa ordem, temos condições de ter sucesso.

Como você vai se esforçar e se dedicar a algo que começou sem estabelecimento de valores e transparência? É como querer cobrar de um time de futebol que ele ganhe uma Copa do Mundo sem a formação estratégica, racional e técnica, de um time a partir da escolha correta de um técnico. Qual é a chance de isso dar certo? Praticamente nenhuma. Seria como lançar uma equipe de galinhas em campo.

Por outro lado, seu esforço e dedicação diante de um “time” (casamento) que foi construído a partir de valores e transparência definidos desde o início, sua chance de sucesso são de 99%, pois não se trata de uma aposta no acaso, mas de uma ação pensada.

Algo que precisa ser dito, e aqui enfatizo isso sem moderação, é que esforço e sacrifício na relação por vezes podem ser dolorosos, e é justamente por isso que apalavra “ESFORÇO” ganha sentido, pois implica em algo que devemos nos sacrificar em certas vezes, desde que isso tenha sentido no contexto da relação.

04 – Sacrifício

Relacionamento amoroso, dentro do contexto do casamento, envolve algo que muito mais tem a ver com sacrifício do que com autossatisfação egoísta. Porém, o termo “sacrifício” aqui não deve ser entendido de forma errada, pois nesse contexto envolve algo que, em suma, nos realiza como pessoas, uma vez que entendemos o valor do outro em nossas vidas, desde que os valores estabelecidos lá no começo (lembra no primeiro tópico?) sejam respeitados.

O sacrificar-se em prol de quem amamos, neste contexto, assume um papel que de muitas maneiras acaba influindo em algo que nos traz satisfação por consequência. Isto é, não pelo que o outro é capaz de nos proporcionar, mas pelo que nós somos capazes de sentir com a satisfação do outro.

A ideia de sacrifício, neste caso, não envolve algo que se propõe ao acaso, como alguém que se joga ao abismo por um amor não correspondido, por exemplo, mas por uma CORRELAÇÃO que se vê na satisfação de quem amamos, mesmo que limitada, mas dita através das múltiplas formas de sentir, pensar e agir.

Isso envolve todas às áreas da vida, como educação de filhos, sexualidade (sexo), finanças, parentesco e etc.

05 – Autocrítica

Por último, esse talvez seja um dos elementos mais difíceis para o estabelecimento de um casamento saudável, porque ele envolve não apenas um exercício psicológico/emocional que trata do outro, mas apenas e exclusivamente de nós, motivo pelo qual o deixei por último.

Ora, dificilmente queremos nos enxergar no próprio espelho. O famoso jargão “espelho, espelho meu…”, consagrado na narrativa da Branca de Neve, não é por acaso. Existe nele uma tentativa mascarada de apenas não se ver, mas de querer falsificar a ideia da autocrítica, no sentido de aliviar o peso dos problemas pessoas, como se o espelho fosse “alguém” que fosse bonzinho conosco, omitindo quem realmente somos diante da realidade.

Na vida real, não é assim, e a falta de autocrítica sempre nos coloca numa situação prejudicial quando o assunto é relacionamento amoroso. Isto, porque, a falta desse elemento nos faz pensar que sempre estamos em posição de “razão” e “vantagem” sobre o outro, porque isso nos produz um efeito de ILUSÃO sobre quem realmente somos, diferentemente da forma como OS OUTRO NOS ENXERGAM.

Qual é a solução? Não há fórmula mágica, visto que ela envolve, em especial, o querer de quem deseja mudar. Mas, algumas coisas são fundamentais, como por exemplo o exercício da humildade ao nos colocar no lugar de escuta, em vez no da arrogância em se ver como o que, talvez, alguns possam interpretar como a figura do “super-homem” remetida ao célebre filósofo alemão Friedrich Nietzsche.

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