Uma das maiores demandas nas clínicas de psicologia na atualidade é o que muitos pais classificam como comportamento “indisciplinado, rebelde e agressivo” dos filhos. O desinteresse pelos estudos, falta de interação familiar, isolamento, a “hiperatividade” e por vezes atos compulsivos também engrossam essas reclamações.
A depressão, ansiedade e episódios de automutilação estão na outra extremidade desses comportamentos. Em todos os casos, porém, estamos falando de problemas de ordem comportamental/emocional, onde na grande maioria das vezes a origem do problema está na educação dos pais com os filhos, bem como em seus contextos de vida.
Pensando nisso, o objetivo desse texto é apontar três erros graves cometidos pelos pais, a fim de procurar elucidar a maneira correta sobre como os filhos devem ser educados, visto que boa parte das boas referências sobre educação familiar, infelizmente, tem sido perdida.
01 – Correção tardia
É comum os pais reclamarem de filhos com 10, 12, 15 anos ou mais, apresentando comportamentos problemáticos. No entanto, a maioria deles não percebe que o comportamento não se instala como se alguém apertasse um botão: ele é construído!
Os filhos “indisciplinados” entre os 10 e 15 anos são pessoas que, muito provavelmente, não foram corretamente disciplinados entre os 5 e 10 anos.
Os filhos entre 5 e 10 anos taxados como “indisciplinados”, “impulsivos”, “hiperativos”, por sua vez, certamente não foram disciplinados corretamente nos primeiros 5 anos de vida. A falta de aplicabilidade desse conhecimento básico é o que resulta na chamada correção tardia.
A correção tardia é difícil, porque ela exige muito mais trabalho da parte dos pais. É nesse momento de necessidade que os pais procuram ajuda profissional, querendo transferir a responsabilidade do problema (que é da família), para outros – escola, igrejas, etc.
Para educar, os pais precisam saber o momento exato de aplicar a correção nos filhos, e isso começa desde os primeiros meses de vida, algo que na atual geração, onde os pais dividem muito o tempo da família com outras atividades, tem sido muito negligenciado.
02 – Interferência na autoridade familiar
O segundo erro fatal na educação dos pais com os filhos é a interferência na autoridade paterna ou materna. Isso ocorre, por exemplo, em famílias muito numerosas, onde há vários cuidadores, como avós, tios e tias. Outro agravante surgido recentemente é a mídia.
A internet, TV, os veículos de comunicação em geral se tornaram parte da cultura familiar, de modo que eles interferem diretamente no desenvolvimento psicossocial de muitas crianças e adolescentes. Para comprovar isso, basta observar o grande número de crianças a partir de 01 ano com celular nas mãos.
Para uma educação sadia, os filhos precisam saber exatamente quais são às figuras de autoridade sobre eles. Observe que isso não tem a ver com respeito, simplesmente, mas com obediência. O respeito é para todos, mas a obediência, não.
A desautorização paterna ou materna ocorre quando algum membro da família, ou um dos cônjuges, interfere em uma ordem estabelecida pela figura de autoridade maior, sua visão de mundo e valores transmitidos aos filhos. Não importa quem seja o cuidador(a).
Mutas vezes isso ocorre na frente dos filhos, o que é muito pior, pois confunde a criança. Em sua mente, ela pena: “Quem manda realmente em mim? A quem devo obedecer?”. O pai diz uma coisa, a mãe outra, enquanto os avós outra, e assim por diante.
Em tal circunstância, a criança vai “obedecer” a quem ela achar mais conveniente, visando o que parece lhe agradar mais, pois ela sabe que em caso de divergência contará com o apoio do “rival” do pai ou da mãe para lhe apoiar.
Isso, porque, toda criança busca satisfação imediata, conforto físico e psicológico, independentemente do que isso possa lhe causar a médio e longo prazo. Em outras palavras, quem exerce o poder de educar sempre terá a dificuldade de encarar o lado mais “flexível” de quem sempre busca agradar o menor, em vez de corroborar com a disciplina aplicada.
Em suma, quanto a esse quesito, seja você pai ou mãe, nunca deixe com que terceiros interfiram na sua autoridade sobre os filhos, especialmente se isso ocorrer na frente deles.
03 – Ausência afetiva / falta de exemplo
O terceiro e último erro fatal na educação dos pais com os filhos é a ausência afetiva, que pode ser entendida também como falta de exemplo. Ora, crianças não obedecem pessoas que para elas são sinônimos de negligência ou referencial negativo.
Esse é um grave problema, típico da atual geração, porque ele é o resultado direto da preocupação cada vez maior dos pais com o sucesso profissional, aquisição de bens e outros interesses que, na prática, não têm a presença junto aos filhos como a grande prioridade.
Infelizmente, muitos pais confundem ocupação com educação. Eles acham que deixando os filhos ocupados com alguma atividade, como vendo filmes, desenhos, jogando, fazendo aula de alguma coisa, estão cumprindo o papel de educar, quando não estão.
Ausência afetiva, portanto, ocorre na presença dos pais. O corpo está presente, mas não à atenção, e se não há atenção, não há afeto. Os filhos sentem profundamente isso, muito embora não saibam expressar verbalmente. A forma como eles expressam isso é desenvolvendo problemas comportamentais/afetivos.
Educação é exemplo. Não se ensina autocontrole, respeito, moderação e organização aos filhos em uma casa descontrolada, onde os moradores se desrespeitam, exageram em tudo e mantém suas próprias atividades bagunçadas. Isso também é uma forma de ausência afetiva, visto que os pais que não atentam para isso, estão sendo negligentes para com a necessidade dos filhos de ver neles o exemplo a ser seguido.
Por que geração “mi mi mi”?
O termo “mi mi mi” faz referência à geração de crianças e adolescentes, jovens em geral, que justamente pela falta de educação correta dos pais se tornam indisciplinados, de fato. São pessoas que não sabem lidar com frustrações, porque não sabem reconhecer os próprios limites.
Observe que não estamos tratando aqui de jovens portadores de certos transtornos, mas sim dos que adquiriram determinados comportamentos devido ao contexto educacional deficiente.
São jovens “mimados” que não aprenderam a importância do “não”, da privação ocasional de desejos, da correção verbal e até física em certos casos, e por isso pensam e se comportam como pequenos deuses em suas próprias casas, desobedecendo não apenas os pais, mas também as regras de convivência da sociedade.
É essa mesma geração que também tem adoecido emocionalmente, apresentando altos índices de depressão, ansiedade, agressividade e suicídio. Isso porque, apesar de serem responsáveis por seus atos e terem consciência do que fazem, tais jovens são muito mais vítimas da cultura vigente do que promotores dela.
Conclusão
O objetivo desse texto não foi ensinar o momento certo de disciplinar, como exercer autoridade e ser presente afetivamente, mas sim apontar que o oposto disso são três erros fatais na educação dos pais com os filhos.
Se você, pai ou mãe, avó ou avô, cuidador em geral, identificou que tais erros fazem parte da sua rotina, isso é o primeiro passo para a correção.